Estamos perdendo a capacidade de nos aprofundarmos nos relacionamentos?
- Sessão de Psi
- 26 de jan. de 2022
- 2 min de leitura
Atualizado: 22 de abr. de 2024

O déficit de intimidade das relações já não é coisa de hoje. Já teve o filósofo e sociólogo polonês Zygmunt Bauman falando sobre a liquidez das relações pós-modernas, Schopenhauer com o dilema do porco-espinho e até Santo Agostinho exortando com sua reflexão: "Não sacia a fome quem lambe pão pintado". (Eu sei, a frase é estranha, mas vale a pena dar um Google!)
Embora não seja um fenômeno exclusivamente atual, existe um crescente "jeitinho superficial e descartável" de se relacionar hoje em dia. A rede de contatinhos, o unfollow, o ghosting e o cancelamento são exemplos semelhantes de como a sociedade contemporânea vem lidando com a relações interpessoais e principalmente afetivas.
A convivência dá trabalho: amizade, namoro, casamento, se envolver com alguém em qualquer nível demanda atenção, tempo, cuidado, dedicação e intenção. Evitar esse trabalho tem suas consequências, de um lado a solidão e do outro lado (também) viver relações com aquela famosa sensação de estar rodeado por pessoas mas ainda sentir-se só. Na clínica com casais, é bastante comum ouvir parcerias que diante de decepções ou frustrações lidam com as situações evitando conflitos. "Fiquei triste mas não disse nada." "Há meses me incomodo com o que ela falou sobre minha família mas resolvi deixar para lá." Gradativamente caminha-se para um lugar distante da intimidade, da conexão e da troca que um relacionamento satisfatório e prazeiroso pode significar.
Não tem outra resposta (senão essa uma que contém em si muitas outras): precisamos sim uns dos outros e uma maneira possível de não viver relações superficiais é ativamente oferecendo o oposto disso. Deixar de evitar os conflitos é o primeiro passo para não colher a superficialidade e o descarte. É preciso falar. Mesmo que o outro fuja, estar lá, convidar. Entender que às vezes nem sempre vai ser como gostaria que fosse, elaborar esse luto e seguir. Dar uma resposta para si mais transformadora do que entrar em espiral na lógica de se esquivar e "esquecer o amor". Mas eu sei, isso também dá trabalho. Qual caminho você escolhe?
Por Alessandra Azevedo
CRP 06/162000
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